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Tem Trilha 12/10/2024 10:44
    Travessia Serras Altas do Nordeste (Gigantes do Nordeste)

    Travessia Serras Altas do Nordeste (Gigantes do Nordeste)

    Subindo os 20 Maiores Cumes do Nordeste (Gigantes do Nordeste)

    Long Distance

    PRELÚDIO

    Após tomar conhecimento das Serras Altas do Nordeste, também conhecida como Gigantes do Nordeste, ir visitar as montanhas Baianas ficou sendo meu destino de trekking almejado. Apesar da crescente divulgação, é um local que, em relação às outras áreas da Chapada Diamantina, ainda é pouco visitado. Muito talvez por não ser um local de turismo de cachoeiras imponentes como é na Chapada. Mas isso não tira a beleza do lugar.

    Situado a oeste da Chapada Diamantina, nas cidades de Rio de Contas, Abaíra e Piatã, as Serras Altas é muito interessante para trekking de montanha, muito em parte devido a forte presença de campos rupestres, devido às altas atitudes do local. Até certo ponto, tem boa disponibilidade de água pelo caminho, estando presente várias nascentes que são importantes afluentes para o Rio de Contas como também para o Rio São Francisco.

    De um modo geral representam uma zona com a presença dos biomas da Caatinga, do Cerrado e da Mata Atlântica, além da presença de campos rupestres nas porções mais elevadas. A maior parte do percurso é por um terreno onde predomina a vegetação de campos rupestres. Porém, em algumas áreas, há a presença forte da mata atlântica como na região da Serra do Itobira.

    Apesar de não estar entre o centro das atrações na Chapada, há um bom tempo, já é um local que vem sendo visitado turisticamente. Principalmente pelo fato de onde estão situados os pontos mais altos do Nordeste. Há relatos desde 2012 de visitas aos picos isolados como o Itobira, Elefante e ao ponto mais alto do Nordeste, o Pico do Barbado, como descrito em (1). Atualmente, com o aumento das visitas, a região está cada vez mais ganhando destaque.

    No meio do montanhismo, os primeiros trekkings nas Serras Altas começaram a surgir a partir dos trabalhos do Orlando Barros, que juntamente com outros condutores e moradores locais começaram a explorar a região. Contando com a ajuda dos condutores Chico Guia, Dmitri de Igatu e Dú de Catolés, eles começaram a mapear e nomear outros cumes vizinhos aos já então conhecidos Barbado, Elefante e Itobira.

    Orlandinho, como é chamado no montanhismo, totalizou o mapeamento de um agrupamento de 28 cumes e subcumes acima de 1800 m de altitude, os quais chegam a compor o complexo das Serras Altas. O projeto durou 4 anos, e em 2024, depois de várias incursões, chegou a completar a conquista de todos os 28 cumes, como descrito em (3). Um grande feito que gerou mais apelo para a preservação do local, como também novas opções para a prática do trekking na Chapada Diamantina.

    Em meio a esses trabalhos, em 2020, os primeiros registros de trekkings nas Serras Altas começaram a surgir. Neste mesmo ano, travessias e circuitos foram formatados com trilhas de vários dias. Como aparece no registro descrito em (3), através do grupo formado pelo próprio Orlandinho, Peter Tofte e a participação de outras pessoas. O principal objetivo era criar roteiros de vários dias para explorar os outros cumes acima de 1800 m e também 1900 m que até então não eram conhecidos.

    Ainda em 2020, Orlandinho começou a pensar numa travessia que integrasse os picos acima de 1900 m numa única trilha. Feito este realizado por Peter Tofte, Thaís Cavicchioli e Maria Fernanda May que completaram a conquista numa única trilha de 8 cumes acima de 1900 m de altitude, como descrito em (4).

    Nessa mesma ideia, em meados de 2022, ocorreu o primeiro registro da travessia nomeada como Travessia dos Gigantes do Nordeste. O objetivo principal foi conquistar, numa única trilha, os cumes acima de 1900 m de altitude que estavam mais ou menos próximos uns dos outros nas serras do Barbado, do Itobira e o mais afastado Pico das Almas, como descrito em (5).

    Essa travessia contou com a participação de Pedrão do Brasil e Marluce Mafra, e foi conduzida pelo condutor de Catolés, Chico Guia, como descrito em (5). Essa travessia subiu os 9 cumes, sendo eles o Pico do Barbado, o Pico do Elefante, o Pico da Lapa Grande, o Pico das Prateleiras, o Pico das Almas, o Pico do Corvoão, o Pico do Escorrido o Pico do Itobira e por fim o Pico do Altino, todos eles acima de 1900 m. Em tempo, o termo Gigantes do Nordeste foi criado pelo Dmitri de Igatu, o qual vende roteiros de trekking com esse mesmo nome.

    O meu conhecimento das Serras Altas foi através do amigo Pedrão do Brasil, quando o mesmo esteve por lá fazendo a Travessia dos Gigantes do Nordeste. Na época, ainda recebi o convite dele para participar da travessia, porém devido ao trabalho não pude estar presente. Porém, o desejo de conhecer ficou, o qual só pôde ser realizado neste ano.

    No segundo semestre de 2023, estava empenhado em montar uma expedição para conhecer as Serras Altas no ano seguinte. Já estava passando do tempo, pensava eu. Foi quando o amigo de Santa Catarina, Marlon Schunck, me convidou para participar do seu projeto de andar pela Chapada Diamantina e pelas Serras Altas. De pronto aceitei o seu convite e também falei do meu interesse em já querer conhecer a região das Serras Altas. Durante as conversas, ficamos acertado para ir no mês de junho de 2024, por ser final de inverno e um dos meses que chove menos na região.

    INFORMAÇÕES

    • Tipo: Trekking autônomo e independente com planejamento do percurso e navegação realizados pelos participantes;
    • Participantes: Marlon Schunck, Marcelo Melo e Eu;
    • Distância total: 125 Km;
    • Ganho de elevação: 5800 m;
    • Dias: 8 dias;
    • Época: É possível fazer em qualquer período do ano. Entretanto, a melhor época em termos de pontos de água e temperaturas mais amenas é nos meses de maio a julho;
    • Datas: 2 a 9 de junho de 2024;
    • Tracklog: Em breve;

    COMO CHEGAR

    As duas principais cidades base para as Serras Altas são Rio de Contas/BA e o povoado de Catolés de Cima na cidade de Abaíra/BA. Você pode chegar através da cidade de Vitória da Conquista/BA, caso esteja vindo mais do sul ou a partir da capital Salvador/BA. Ambas possuem aeroportos e ônibus direto até Abaíra e Rio de Contas.

    Caso esteja a pé, na rodoviária de Salvador a empresa Novo Horizonte faz linha para Rio de Contas. A rota que eu fiz foi passando pelas cidades de Seabra, Abaíra e Piatã, entre outras. Há também uma outra rota passando pelo povoado de Livramento, mas preferi a rota por Seabra. Em Vitória da Conquista também é possível pegar ônibus.

    Caso esteja de carro, as melhores rotas são por Seabra e Vitória da Conquista, apesar de existirem outras opções de percursos.

    A TRAVESSIA

    A travessia começou na cidade de Rio de Contas e terminou no povoado de Catolés de Cima, na cidade de Abaíra. Teve ao todo 125 km e foi feita de forma autônoma em 8 dias, carregando os próprios equipamentos e comida. Percurso feito todo a pé saindo da cidade de Rio de Contas e indo até a Serra do Itobira caminhando por entre sítios e povoados como o do Jiló, da Fazendola e da Caiambola.

    O percurso passou pelos 20 maiores picos do Nordeste, dos quais 12 cumes acima de 1900m e mais 8 cumes acima de 1800m, além de subir o ponto mais alto do Nordeste o cume do Barbado com 2033m de altitude. Ao todo foram 20 cumes atingidos. Alguns dos pontos tratados no texto como “cumes”, na verdade são subcumes de um outro cume, isso pelo fato de fazerem parte de uma mesma montanha ou serra.

    Segue abaixo a tabela com todos os cumes atingidos na travessia ranqueados por altura ao nível do mar. As altitudes da tabela foram obtidas durante a trilha usando o GPS de um aparelho de celular. Os nomes dos cumes foram os mesmos utilizados pelo Orlandinho no seu trabalho, bem como a classificação dos picos como montanha ou subcume (8).

    Todos os 20 cumes atingidos na travessia por ordem de altitude

    Para fazer essa travessia, é essencial boa experiência em navegação com GPS ou mapa e bússola. Por ser uma área ainda pouco visitada, a caminhada se deu mesclando trechos com e sem trilha consolidada. Além disso, em alguns momentos conquistamos alguns cumes em meio à cerração com pouca visibilidade. Algumas trilhas para os cumes mais frequentados como o Pico das Almas, Pico do Itobira, Pico do Barbado e outros possuem as trilhas de acesso e de subida bem definidas. Porém alguns outros cumes não possuem sequer trilha de acesso.

    Por ser um terreno onde a maior parte é por campos rupestres a caminhada e navegação ficam mais facilitadas. A maior parte do percurso é por um terreno onde predomina a vegetação de campos rupestres, com a presença de gramíneas como capins e também alguns arbustos e muitas rochas. No acesso ao Pico das Couves passamos por um trecho de mata atlântica, onde em alguns momentos, a trilha sumiu.

    Com relação à água, é uma região com fartura de água a depender da época do ano. Fizemos na época de transição de chuva para seca (junho) e encontramos muitos pontos de água pelo caminho. Os meses de chuva vão de Novembro a Abril. Sendo assim, os piores meses para encontrar água seriam nos meses de Setembro e Outubro.

    Apesar de ser no Nordeste, é uma região com temperaturas mais baixas do que as pessoas pensam. Então, durante os meses de junho a agosto, espere encontrar temperaturas mínimas variando entre 10 °C e 15 °C durante a noite e temperaturas máximas próximas dos 35 ºC durante o dia. Nossa menor temperatura foi de 12ºC entre os Picos do Barbado e do Elefante.

    No geral é uma travessia num lugar muito bonito, de grande beleza cênica através de uma bela cadeia de serras. Os visuais das Serras Altas são tão bonitas quanto as serras do sudeste do Brasil. É um lugar que merece várias visitas.

    O primeiro dia (DIA 1 - RIO DE CONTAS AO VALE DO QUEIROZ) tem 26 km com 1100 m de elevação. Começa na cidade de Rio de Contas e segue pelo vale do rio Brumado até a primeira noite num lugar conhecido como Vale do Queiroz, na Serra das Almas. O local de acampamento é o ponto base para ataque ao Pico das Almas e fica próximo à nascente do rio Brumado. Nesse dia fizemos o Pico das Almas e voltamos para o acampamento base.

    O segundo dia (DIA 2 - VALE DO QUEIROZ À RIACHO CUMBURU) foi o dia mais longo e tem 29 km com 490 m de elevação. Esse dia segue a pé em direção à Serra do Itobira atravessando o vale do rio Brumado. Continua a travessia a pé passando por sítios e comunidades como a Fazendola e Caiambola que pertencem à cidade de Rio de Contas. O ponto de pernoite ficou sendo no início da Serra do Itobira às margens do riacho Cumburu que desce da serra do Itobira.

    O terceiro dia (DIA 3 - RIACHO CUMBURU À SERRA DO ITOBIRA) tem 9 km e 900 m de elevação. Esse dia continua pela Serra do Itobira conquistando os seguintes cumes e subcumes da Serra do Itobira: Pico do Itobira, Pico da Taquara Leste e por fim o Pico da Taquara Oeste. O ponto de pernoite ficou sendo na base do Pico do Itobira, entre os Picos do Taquara Leste e Oeste.

    O quarto dia (DIA 4 - SERRA DO ITOBIRA AO ROLLING STONES) tem 12 km e 600 m de elevação. Esse dia começa na tentativa de conquistar os Picos da Campina e o Pico do Oiteiro, os dois últimos subcumes da Serra do Itobira. Devido ao mau tempo (muita neblina e chuva fina) não chegamos a tentar subir o Pico do Oiteiro. O destino final desse dia foi o acampamento dos Rolling Stones.

    O quinta dia (DIA 5 - ROLLING STONES À MATA DOS FRIOS) tem 15 km e 840 m de elevação. Esse dia começa subindo o Pico do Altino e em seguida conquista os picos do Corvoão e das Prateleiras. O ponto de pernoite foi próximo a Mata dos Frios.

    O sexto dia (DIA 6 - MATA DOS FRIOS À SERRA DO BARBADO) tem 10 km e 750 m de elevação. Esse dia conquista o Pico da Lapa Grande e o Pico do Castelo. O ponto de pernoite foi na base do Pico do Barbado.

    O sétimo dia (DIA 7 - SERRA DO BARBADO AO RIACHO FORQUILHA) tem 8 km e 400 m de elevação. Esse dia volta um pouco no percurso do dia anterior e segue na direção leste para conquistar o Pico da Brenha. O ponto de acampamento ficou no mesmo local do dia anterior.

    O oitavo e último dia (DIA 8 - RIACHO DA FORQUILHA À CATOLÉS DE CIMA) tem 17 km e 780 m de elevação. Esse dia começa conquistando o ponto culminante do Nordeste, o Pico do Barbado. Em seguida, o percurso sobe o Pico do Elefante e segue em direção à Serra do Cigano. No caminho conquistamos o Pico do Cigano. cume da Serra do Cigano, e os seus sub cumes Pico da Mata, o Pico da Contagem e o Pico do Ouro Fino. Terminamos a travessia descendo o vale do Bem Querer finalizando no povoado de Catolés de Cima.

    Esse percurso contém as atrações, os pontos onde passei a noite, pontos de água, bifurcações e outros pontos de acampamento. Relato com logística e mais detalhes da trilha abaixo.

    DIA 1 - RIO DE CONTAS AO VALE DO QUEIROZ

    Esse dia conquista o primeiro cume da travessia, o Pico das Almas. A travessia começa na cidade de Rio de Contas e segue pelo vale do Rio Brumado até a Serra das Almas. Situada nas serras altas, a Serra das Almas abriga as nascentes do rio Brumado, predominando a vegetação do tipo campo rupestre com várias espécies endêmicas de plantas.

    Nos hospedamos um dia antes na Pousada Portal da Chapada e no dia seguinte começamos a travessia. Esse foi um dia com terreno misto, andando primeiramente em estradão e depois em trilha até o pico. Na Chapada Diamantina, como de costume, logo cedo começamos a caminhar em meio a uma serração e uma chuva de leve que aos poucos foi se limpando no decorrer do dia. Saímos com pouca visibilidade.

    Saída da cidade de Rio de Contas

    São quase 19 km de estrada de terra até começar o início da trilha até o pico. O percurso de estrada não tem muito esforço físico ou grandes dificuldades de navegação. Ao longo da estrada, podemos observar logo no início a barragem Luiz Vieira, construída pelo represamento das águas do rio Brumado e depois o vale do rio Brumado.

    Antes de chegar na trilha, passamos no povoado de Brumadinho, uma comunidade formada quase que no pé da Serra das Almas. Continuando pela estrada, cruzamos o rio Brumado e depois de uma subida longa e acentuada pegamos a entrada da trilha à esquerda. Nesse momento, deixamos a estrada de lado e entramos de vez na trilha.

    Passagem pela Comunidade Brumadinho

    No começo, a trilha é bem demarcada e batida passando por alguns lances de rochas e vegetação mais alta. Começamos com vegetação mais fechada do tipo cerrado com capim, alguns arbustos e algumas árvores pelo caminho. Após poucos minutos de caminhadas, o corredor das almas aparece e depois entramos no Vale do Queiroz. Agora a vegetação muda completamente para os campos rupestres e permanece assim até o Pico das Almas. Continuando pelos campos, adiante pegamos água em um dos afluentes do rio Brumado e depois seguimos em direção ao ponto de acampamento do primeiro dia.

    Durante a ida, esse é o ponto de água mais próximo do acampamento. A água deve ser levada a partir daqui ou coletada em outro momento mais na frente no rio Brumado. Já aproveitei pra levar toda a água para usar durante a noite e no dia seguinte.

    Chegamos no ponto que é normalmente utilizado para atacar o Pico das Almas e deixamos nossas mochilas. Aproveitamos esse meio tempo para fazermos aquela parada de descanso e lanche. Com mochila de ataque fomos até o Pico das Almas. Esse trecho da trilha também é demarcado e passa por alguns lances de rocha. Porém é preciso ficar sempre atento para não sair da trilha e tomar outra direção.

    Após alguns minutos de subida, logo chegamos na Janela das Almas e seguimos subindo. O ponto crucial e também o mais técnico do dia, foi quando chegamos no trecho de escalaminhada que se estende até bem próximo ao pico. Uma subida bem inclinada em meia a rocha que pelo vento que fazia, tive que subir com apoio das mãos sobre a rocha.

    Vista durante a subida ao Pico das Almas

    Caminhamos em direção ao ponto mais alto e atingimos o cume das Almas. Nosso primeiro cume da travessia. Conquistando o 1º cume da travessia com 1954 m de altitude e o 5º ponto mais alto do Nordeste. Assim que chegamos no pico, uma forte massa de ar se aproximava, mesm assim ainda tinhamos visibilidade das partes mais baixas. Porém, em poucos minutos a nuvem tomou conta do cume o que fez com que não tivessémos mais nehuma visibilidade. Achei que fosse cair alguma pequena chuva, mas era apenas uma neblina com massa de ar seca, menos mal.

    Grande quantidade de neblina se aproximando do Pico das Almas

    Apesar da pouco visibilidade, a medida que fomos descendo aos poucos fomos ganhando visibilidade. Ainda passamos no mirante das almas e voltamos para o acampamento. Montamos acampamento e nos preparamos para passar a nossa primeira noite nas Serras Altas da Chapada Diamantina.

    Descida até o acampamento

    DIA 2 - VALE DO QUEIROZ AO RIACHO CUMBURU

    Esse dia segue a pé em direção à Serra do Itobira e termina na parte baixa da serra às margens do riacho Cumburu. É um dia com terreno misto de trilhas por dentro de fazendas e por estradas de terra. Como fizemos esse caminho a pé, tivemos a oportunidade de pegar caminhos de roçado para encurtar a distância.

    Como no dia anterior, acordamos em meio a uma cerração e uma temperatura de 15ºC que não é muito comum para a região do Nordeste. Mas para as serras Baianas poderíamos até ter pegado menos. O percurso deste dia, começa voltando por um trecho do dia anterior até chegar na comunidade de Brumadinho.

    Acampamento na Serra das Almas

    Após a comunidade, pegue uma estrada rutal à esquerda e mais na frente uma trilha discreta à direita da estrada. São cerca de 5 km até a comunidade do Jiló. Andando por trilhas e estradas margeando o rio Brumado, o caminho tem bastante pontos de água. No caminho passamos por roçados de plantações de frutas como Manga, Ponkan, Tangerina e Café. Há também duas quedas d’águas do curso do rio, ouvidas ao longo da trilha.

    Uma das quedas d'aguas do curso do Rio Brumado

    Não demora muito até chegar no Jiló. Desse ponto até onde passamos a noite são cerca de 17 km. Todos andando por estrada de terra e passando ainda pelas comunidades Fazendola e Caiambola. O trecho foi sem dificuldades técnicas com algumas subidas.

    A Caiambola é o último povoado antes de chegar ao Itobira. Logo depois chega no final da estrada e começa a trilha. No final dela o Pico do Itobira e o Pico do Oiteiro ficam mais aparentes, aparecendo por trás da serra. Pegamos a trilha até chegar no ponto onde passamos a noite ao lado do riacho Cumburu, formado pelas águas que descem da Serra do Itobira.

    DIA 3 - RIACHO CUMBURU À SERRA DO ITOBIRA

    Esse dia permanece pela Serra do Itobira e conquista os picos que circundam o Itobira. Ao final do dia fizemos mais quatro cumes: Pico da Campina, Pico do Itobira, Pico da Taquara Leste e por último o Pico da Taquara Oeste. Completando 5 cumes na travessia.

    Logo de início, a travessia segue ganhando altitude até a área base do Pico do Itobira. Caminho bem demarcado. Já bem próximo é possível ouvir o cair da água da Cachoeira do Cumburu. Na época, além desse ponto de água, havia outros pontos mais na frente, até o final da subida onde deixamos as mochilas. Por ser final do período das chuvas os riachos ainda desciam bastante água.

    Ao final da subida, no colo entre o Itobira e o Pico da Campina, deixamos nossas mochilas e fomos primeiro ao ataque do Pico da Campina. Situado à direita do Itobira, são cerca de 1 km numa subida moderada em campo de altitude até atingir o cume. Maior parte do terreno relativamente sem dificuldades com vegetação do tipo campo rupestre com presença de capim e alguns poucos arbustos. Em poucos pontos pegamos trecho mais técnico transpondo algumas rochas mais altas.

    A subida do Pico da Campina não tem um cume bem visível logo de início. Ao longo do caminho vão aparecendo falsos cumes. Seguindo mais um pouco, chega-se ao ponto de maior altitude. Chegamos ao topo do Pico da Campina conquistando o 2º cume da travessia com 1824 m de altitude, sendo o 18º ponto mais alto do Nordeste. Em cima, uma bela visão da região do Itobira, com destaque para o Pico do Itobira, os picos da Taquara, Oiteiro e a sudeste a Serra da Lavra Velha.

    Pico da Campina

    A descida é pelo mesmo caminho. Voltamos, apanhamos as mochilas e continuamos em direção ao Pico do Itobira. Continuando de volta à trilha que estávamos, caminhamos mais um pouco e deixamos novamente as mochilas na bifurcação da trilha que segue para o Pico do Altino. Com as mochilas de ataque nas costas, dessa vez fomos ao ataque do Pico do Itobira.

    Subida bem forte e íngreme em alguns pontos, mas sem grandes dificuldades de navegação. Por ser um setor frequentado, a trilha é demarcada e batida até chegar ao topo. São quase 300 m de trilha até chegar ao cume. Chegamos ao topo do Pico do Itobira conquistando o 3º cume da travessia com 1934 m de altitude, sendo o 8º ponto mais alto do Nordeste.

    Pico do Itobira com vista para o Pico do Oiteiro à esquerda e o Pico do Taquara Oeste à direita

    Caminhando mais à direita, chega-se à parte mais alta. No topo há uma área de acampamento com espaço para duas ou três barracas. Não acampamos, pois ainda havia mais algumas horas do dia. Descemos pelo mesmo caminho, pegamos as mochilas e fomos pela trilha do Altino até o Pico do Taquara Leste. Na base dele, deixamos as mochilas e fomos ao ataque.

    Se atinge o cume com cerca de 400 m de caminhada. Subida moderada, transpondo alguns lances de rocha. Chegamos ao topo do Pico da Taquara Leste conquistando o 4º cume da travessia com 1817 m de altitude, sendo o 20º ponto mais alto do Nordeste. Do topo é possível avistar o Taquara Oeste ao lado e ter uma visão melhor do Pico do Oiteiro que se levantava adiante. Nesse momento, já fomos analisando como seria a sua subida e de cara percebemos que não seria uma tarefa fácil.

    Pico da Taquara Leste com vista para o Pico do Oiterio à esquerda e o Pico das Couves e o Pico da Taquara Oeste à direita

    Descemos pelo mesmo caminho e pegamos água um pouco na frente em um córrego à direita da trilha. Em seguida, saímos da trilha convencional e pegamos à esquerda até o ponto onde iríamos passar a noite. Esse local de acampamento fica ao redor dos picos Taquara Oeste, Itobira, Oiteiro e Taquara Leste. Foi um ponto estratégico que ficamos por ser um ponto de acesso aos picos do Oiteiro e das Couves, os quais faríamos no dia seguinte.

    Montamos as barracas e como ainda havia um tempo de luz do dia, resolvemos atacar o Pico do Taquara Oeste. São cerca de 800 m até o cume do Taquara Oeste sem grandes dificuldades. Chegamos ao topo do Pico do Taquara Oeste conquistando o 5º cume da travessia com 1820 m de altitude e o 19º ponto mais alto do Nordeste. Visão espetacular do entorno com destaque para o Pico do Oiteiro, o Pico das Couves, a mata de galeria da base do Itobira e o gigante Itobira.

    Pico do Taquara Oeste com vista para o gigante Itobira

    Voltamos pelo mesmo percurso da ida sempre procurando pegar o mesmo trajeto. O visual das barracas lá embaixo ajudava na nossa direção. Ao chegamos nas nossas barracas, nos preparamos para o dia seguinte.

    Acampamento no pé do Itobira

    DIA 4 - SERRA DO ITOBIRA AO ROLLING STONES

    Esse dia conquista o Pico das Couves e depois segue para a região do Altino. Completando 6 cumes na travessia. Deixamos já o acampamento desmontado e as mochilas preparadas no acampamento e fomos primeiro para o Pico das Couves apenas com mochila de ataque. Seguimos descendo à direita do Itobira e todo o percurso foi em meio à cerração e com uma garoa que parava e depois retornava.

    O caminho e ataque aos cumes não tem trilha, passando por um pequeno trecho de mata atlântica, e por um capim com alguns arbustos. Dessa forma é preciso boa experiência em navegação com GPS. Apesar de existir uma trilha dentro da mata, ela em alguns momentos sumia, mas depois voltava a ficar aparentemente novamente. Bem normal para um lugar ainda pouco frequentado e com muitas rochas e vegetação.

    O percurso no tracklog vai e volta pelo mesmo caminho. Durante a ida, a trilha começa por um capim pegando em seguida a trilha na área de mata e depois volta pelo mesmo local. Entretanto, quando fizemos o percurso, não sabíamos da existência dessa trilha e durante a ida fomos caminhando pela base do Taquara Oeste e mais adiante, entramos na mata em um lugar que não havia trilha.

    Fomos varando mato até que encontramos uma trilha bem aberta e demarcada no meio da mata. Um grande achado! Fomos seguindo por ela até entrar novamente no campo. Parecia ser uma trilha com acesso aos picos que seguia por dentro da mata. Na volta ficamos de seguir inteiramente por ela até sair novamente no campo do outro lado.

    A área de mata parece ter sido uma floresta formada a partir da mata de galeria do riacho que desce do Itobira. Apesar da trilha estar bem aberta e demarcada em alguns pontos, passamos por alguns trechos onde ela sumiu e fechava. A mesma não está tão aberta na parte onde começa e chega-se numa clareira que se abre no meio da mata. Encontramos a trilha mais aberta e demarcada depois da clareira onde saímos na área de campo aberto.

    Fizemos primeiro o Pico das Couves por ser mais fácil que o Oiteiro. Basicamente, seguindo pelo campo, o percurso segue subindo pelo lado direito de uma drenagem e depois chega em uma subida com capim parecendo um gramado. Há diversos pontos de água pelo caminho.

    São cerca de 1.5 km até atingir o Pico das Couves. Subida moderada e sem trilha em meio à cerração pelos lugares menos inclinados. Chegamos ao topo do Pico das Couves conquistando o 6º cume da travessia com 1831 m de altitude, sendo o 17º ponto mais alto do Nordeste. A cerração não deu trégua e ainda estava tudo fechado quando chegamos. Descemos pegando basicamente o mesmo caminho da subida.

    Pico das Couves com neblina e chuva fina

    Chegando embaixo o Pico do Oiteiro estava todo encoberto por cerração. Não dava pra ver o melhor ponto de subida. Por não ter muita visibilidade, resolvemos abortar e continuar a travessia. De fato, vendo dos outros picos, ele pareceu de subida bem difícil e com terreno molhado iria dificultar mais ainda.

    Voltamos pelo mesmo caminho. Na mata fomos pegando a trilha e passando nas partes mais fechadas até sair novamente no campo. Chegamos novamente onde dormimos e seguimos em direção ao Pico do Altino.

    De onde estávamos, pegamos a trilha que viemos no dia anterior. Continuando na trilha, pegamos uma longa descida de vale até o chegar no riacho da Taquara. Paramos para almoçar às margens do riacho e depois continuamos na trilha. Nesse momento a trilha segue subindo suavemente até passar na Lapa da Mutuca.

    O trecho final do dia é uma subida mais forte pelo vale da Mutuca até chegar no acampamento do Rolling Stones. Local onde passamos a noite.

    DIA 5 - ROLLING STONES À MATA DOS FRIOS

    Esse dia conquista o Pico do Altino, o Pico do Escorrido, o Pico do Corvoão e por último o Pico das Prateleiras. Completando 10 cumes até o momento. Foi um dia bem pesado para atingir os cumes por conta das longas subidas e vários desníveis em trepa pedra (trechos técnicos) bem como da navegação sem trilha para chegar aos cumes.

    Acordamos ainda com cerração e em alguns momentos uma chuva fina surgia. Deixamos a mochila no acampamento e seguimos para subir o Pico do Altino. Apesar de ser um dos picos já bem frequentado, há um tempo atrás houve um fogo na área e a trilha acabou ficando apagada em algumas partes.

    São cerca de 2.3 km até o cume. A subida é moderada com alguns lances de subida em rocha e trechos técnicos. Por ser um lugar com grandes rochas é preciso analisar bem os lugares de passagem. Chegamos ao Pico do Altino em meio à cerração e conquistando o 7º cume da travessia com 1910 m de altitude e o 9º ponto mais alto do Nordeste. Assinamos o livro cume e descemos pelo mesmo caminho da ida.

    Assinando o livro cume do Pico do Altino

    Terminamos de desmontar o acampamento e seguimos em direção ao Pico do Escorrido. Na base dele, deixamos as mochilas e seguimos até o cume. São cerca de 400 m até o topo numa subida moderada. Chegamos ao topo do Pico do Escorrido conquistando o 8º cume da travessia com 1932 m de altitude, sendo o 7º ponto mais alto do Nordeste.

    Marcelo Melo assinando o livro cume do Pico do Escorrido

    Descemos e seguimos para o ponto de subida do Pico do Corvoão. De onde deixamos as mochilas, são cerca de 700 m até o cume. Em alguns pontos a trilha não existe sendo uma subida moderada com lances de rocha. Chegamos ao topo do Pico do Corvoão conquistando o 9º cume da travessia com 1946 m de altitude e o 6º ponto mais alto do Nordeste.

    Vista para a Serra da Tromba durante o ataque ao Pico do Corvoão

    Embaixo fizemos uma parada para almoço e logo depois seguimos até o Pico das Prateleiras. O Pico das Prateleiras está inserido no vale dos Cristais, que é formado pelas águas do córrego da Mutuca, um dos afluentes do Rio Água Suja. A trilha segue pela direção do vale e depois começa a subir.

    Dentre os cumes até então, o Pico das Prateleiras foi o mais difícil que achei. A subida foi uma das mais exigentes de esforço físico com cerca de 1.8 km até o cume. Como a maior parte da navegação é subindo nas rochas e por lajes de pedra, há vários totens para ajudar na direção. Chegamos ao cume do Pico das Prateleiras conquistando o 10º cume da travessia com 1961 m de altitude, sendo o 4º ponto mais alto do Nordeste.

    Pico das Prateleiras com vista para o Pico do Castelo à esquerda e o Pico do Barbado à direita

    Descemos pelo mesmo trajeto da subida e como já chegava o final do dia fomos atrás de um lugar para dormir. Dormimos na Mata dos Frios. Porém, antes havia outro local de acampamento no Camping dos Cristais, ao lado do Córrego da Mutuca.

    DIA 6 - MATA DOS FRIOS À SERRA DO BARBADO

    Esse dia conquista o Pico da Lapa Grande, o Pico do Bicho e o Pico do Castelo. Completando 13 cumes na travessia. O percurso até o Pico da Lapa Grande segue no caminho para a Serra do Barbado. Saímos com as mochilas e caminhando por uns 600 m, chegamos na bifurcação da trilha. Deixamos as mochilas e seguimos com a mochila de ataque.

    No caminho para a Lapa Grande há alguns totens. Até o pico são 2.1 km numa subida moderada sem grandes dificuldades de navegação e obstáculos. Caminho por lajes de rocha e capim batido com passagem sem grandes dificuldades. Chegamos ao cume da Lapa Grande conquistando o 11º cume da travessia com 1967 m de altitude, sendo o 3º ponto mais alto do Nordeste.

    Pico da Lapa Grande com vista para os picos do Barbado e do Elefante à direita e a Pedra Lisa à esquerda

    Descemos pelo mesmo caminho e seguimos em direção norte para o Barbado. Seguindo por um trecho de trilha demarcado, o percurso segue para o vale de um riacho afluente das águas do riacho da Cruz. Chegando no riacho, volta-se ao percurso original que é normalmente utilizado para quem vem da Mata dos Frios ou de Catolés pelo vale do Guarda-Mor.

    Nesse trecho, utilizamos uma estratégia diferente do que normalmente é utilizada até então nas travessias. Saímos do acampamento já com as mochilas para fazer o Pico da Lapa Grande e deixamos ela mais na frente. Essa é uma estratégia diferente de pegar a trilha do Barbado mais na frente e não ter que voltar para o acampamento. Dessa forma, pega-se a trilha adiante e economiza alguns passos.

    Quando pegamos as mochilas na volta, o ponto de atalho que estávamos pensando, não foi tão bom quanto pensávamos devido a muito vara-mato e lances altos de descida. Continuamos seguindo até pegar a trilha novamente de subida da Lapa Grande para poder continuar a travessia. O ponto em que se poderia pegar o atalho seria mais embaixo, no próprio caminho de subida. No tracklog fiz as devidas correções e o ponto onde se pode deixar as mochilas, está marcado no tracklog como “Mochilas”.

    Seguindo na travessia, seguimos até a região de ataque aos Picos do Bicho e do Castelo. Aqui foi outra dificuldade da travessia, pois em determinado ponto, não conseguimos seguir usando tracklog que as outras pessoas tinham marcado. O caminho começava batido, porém depois sumia. Tivemos dúvida se era por dentro do vale ou pelas paredes mais em cima. Resolvemos seguir mais por cima pelo lado direito do cânion, até chegar próximo ao Pico do Bicho. Apesar disso, no tracklog, deixei o caminho que normalmente é utilizado.

    Do ponto onde pode se deixar a mochila até o Pico do Bicho são cerca de 500 m. Esse é um cume próximo à trilha. Chegamos ao cume do Pico do Bicho conquistando o 12º cume da travessia com 1879 m de altitude e o 14º ponto mais alto do Nordeste.

    Em seguida partimos para o Pico do Castelo que também fica próximo à trilha. A navegação foi no visual com o trecho final subindo rochas altas. Foi uma das montanhas mais difíceis, com rochas ruins para achar passagem. As pedras eram altas com grandes vãos entre as rochas, um escorregão e acabava a viagem. Por segurança verifique por onde está subindo para saber por onde voltar quando estiver descendo, pois a descida não fica tão intuitiva.

    Pico do Castelo com vista para o Barbado

    O Pico do Castelo fica a cerca de 800 m para chegar ao topo. A parte mais alta é composta por dois agrupamentos de rochas separados, formando duas espécies de torres de pedra uma do lado da outra. A torre do lado esquerdo é a que possui a maior altitude. Descobrimos isso após subir na torre do lado direito.

    Chegamos ao Pico do Castelo conquistando o 13º cume da travessia com 1903 m de altitude e o 10º ponto mais alto do Nordeste. O visual é realmente um dos mais espetaculares da travessia. Tem praticamente vista para todos os cumes feitos até então nas Serras Altas. É possível avistar o Barbado, Elefante, o vale do Barbado, Lapa Grande, Itobira e outros.

    Pico do Barbado iluminado pelos raios do pôr do sol durante a descida do Pico do Castelo

    Descemos e fomos até o ponto onde passamos a noite na trilha para o Pico do Barbado. O caminho segue ao lado de um riacho onde pegamos água para passar a noite. Subimos mais um pouco e numa parte mais plana em cima montamos nossas barracas. Fazia muito vento por ser uma área exposta. Apesar do vento conseguimos montar as barracas e passar a noite no local.

    DIA 7 - SERRA DO BARBADO AO RIACHO DA FORQUILHA

    Esse dia conquista o Pico da Brenha e o Pico do Barbado. Completando 15 cumes da travessia. A ida até o Pico da Brenha volta um pouco na trilha do dia anterior. O percurso sai do vale numa subida à esquerda mais na frente. Desse ponto são quase 2.7 km até o pico caminhando por um capim.

    É importante lembrar que não há trilha e o percurso segue em ligeiro aclive em direção às proximidades onde começa o cânion do riacho Calado. No início dele o trajeto passa por uma mata bastante fechada com muitas pedras no local. Depois da mata já é possível avistar o Pico da Brenha e o seu vizinho o Pico do Guarda-Mor. Em seguida desce um pouco até pegar a subida do pico.

    A subida até o cume é bem intuitiva e com inclinação moderada. Chegamos ao Pico da Brenha conquistando o 14º cume da travessia com 1902 m de altitude e o 11º ponto mais alto do Nordeste. De cima é possível avistar Catolés, Catolés de Cima, a Serra da Tromba e a Serra de Santana à leste. Olhando um pouco mais ao horizonte ainda é possível avistar a Serra do Sincorá com a porção leste da Chapada Diamantina.

    Pico da Brenha com vista para a Serra da Tromba à esquerda e o Pico do Guarda-Mor à direita

    Voltamos para o acampamento e fomos até o Pico do Barbado. O ponto onde iríamos dormir, a princípio não possuía água corrente próxima, então vale levar um pouco mais de água daqui. A subida não tem tanta dificuldade e apesar de não ter trilha, nos pontos de capim ela surge bem batida.

    A caminhada segue alternando entre capim e lajes de pedra. São cerca de 1 km numa subida moderada até o pico. Chegamos ao topo do Nordeste. Chegamos ao Pico do Barbado conquistando o 15º cume da travessia com 2032 m de altitude e o ponto mais alto do Nordeste. Visão 360º no teto do Nordeste.

    Pico do Barbado (da esquerda pra direita Marcelo, eu e Marlon)

    Chegamos já próximo do final da tarde, na melhor hora do dia para fotografar e avistar os arredores. A luz do sol batia na serra e uma luz dourada aparecia no paredão do Barbado. Uma cor dourada que refletia aos olhos evidenciando as Formações Novo Horizonte e Ouricuri do Ouro presentes na Serra do Barbado.

    A descida até o ponto de pernoite, comumente chamado de Forquilha, foi mais desafiadora que a subida. São cerca de 1 km com diversos degraus de descida em rocha até a base. A Forquilha fica no colo entre o Barbado e o Elefante e também é um ponto intermediário entre os vales do riacho da Forquilha e do riacho da Cruz. Esse local já é bastante utilizado como acampamento e possui bastante espaço.

    Descida até a Forquilha com vista para o Pico do Elefante

    Ainda conseguimos pegar um pouco de água que havia numa poça parada próxima ao acampamento. O ponto fica próximo ao muro de pedras no começo do riacho da Forquilha. Boa oferta de água por ser final do período chuvoso e ainda ter chovido bem na região, porém não confie em encontrar em qualquer época. No período de seca, há outro ponto de água à 20 min na descida do vale em direção à Catolés. O próximo ponto de água fica apenas na Serra do Cigano.

    Pela sua característica a Forquilha é um divisor de águas entre a bacia do São Francisco e a bacia do Rio de Contas. O riacho da Forquilha é o vale que desce para a Fazenda do Barbado compondo as águas que formam a bacia hidrográfica do Rio Paramirim (afluente do rio São Francisco) e o riacho da Cruz desce para Catolés e forma a bacia do Rio de Contas.

    Um privilégio poder dormir uma noite nesse local e poder usufruir do afluente do rio São Francisco mais alto no Nordeste.

    Pôr do sol na chegada ao acampamento na Forquilha

    DIA 8 - RIACHO DA FORQUILHA À CATOLÉS DE CIMA

    Esse dia conquista cinco picos: o Pico do Elefante, o Pico da Mata, o Pico da Contagem, o Pico do Ouro Fino e por último o Pico do Cigano. Completando os 20 cumes da travessia. Saímos do acampamento com as mochilas cargueiras em direção à Catolés de Cima, um distrito de Abaíra/BA.

    Normalmente esse é o último pico feito de bate-e-volta nas travessias da região. Nesse formato sobe-se com mochila de ataque e desce pelo vale do riacho da Cruz em direção à Catolés. Entretanto, como iríamos terminar em Catolés de Cima, subimos com as mochilas cargueiras, continuando a travessia passando pela Serra do Cigano e descendo pelo vale do Bem-querer.

    Foi a madrugada mais fria da travessia fazendo 10 °C fora da barraca. Como nos outros dias, saímos em meio a uma névoa com tempo bastante fechado. O começo do dia já vai logo de cara pegando a subida até o Pico do Elefante. A trilha até o pico é bem batida e demarcada. A subida é forte e com alguns pontos bem íngremes, mas sem escalaminhada.

    Chegamos ao Pico do Elefante conquistando o 16º cume da travessia com 1984 m de altitude, sendo o 2º ponto mais alto do Nordeste. A cerração ainda não tinha passado e não pudemos ver muita coisa. Depois de assinarmos o livro cume, fomos em direção ao Pico da Mata. Continuamos em meio à cerração que aos poucos foi se limpando e já dava pra ir vendo os próximos picos e o vale do Barbado.

    Assinando o livro cume do Pico do Elefante

    Fomos caminhando pela cumeeira do Elefante em direção à Serra da Barra que é composta pelos picos do Ouro Fino, do Cigano, da Mata e da Contagem. Ao avistarmos o Pico da Mata, já era possível ver todo o visual do lugar. Lugar muito bonito, de grande beleza cênica através de uma bela cadeia de serras que se estendiam ao norte, típico da formação da cadeia do Espinhaço.

    Descendo agora pela cumeeira do Elefante, chega-se ao início da Serra da Barra com o Pico da Mata destacado na paisagem como um morro acentuado ao lado esquerdo. Seria o nosso próximo pico da lista. Deixamos as mochilas e fomos ao ataque. Para começar a subir, fomos contornando um morro vizinho até chegar ao ponto de sela entre eles.

    Início da Serra da Barra

    Até o cume, a subida é moderada com uma leve escalaminhada no final. Chegamos ao Pico da Mata conquistando o nosso 17º cume da travessia com 1844 m de altitude e o 16º ponto mais alto do Nordeste. Dele era possível avistar mais de perto o vale do Barbado e os outros picos mais ao norte, como o Pico do Cigano, Ouro Fino e a Pedra Lisa.

    Pico da Mata com vista para a Pedra Lisa à esquerda e o Pico da Contagem à direita

    Descemos e continuamos até a Serra do Cigano para subir o Pico da Contagem. Pegamos o percurso convencional na cumeeira da serra que vai em direção ao Pico do Ouro Fino, mas depois saímos um pouco da trilha à esquerda fomos por baixo em direção ao Pico da Contagem.

    Pegamos água embaixo no início do riacho do Cigano e fomos com a mochila de ataque. Distante uns 500 m, o Pico da Contagem não tem tantas dificuldades sendo uma subida relativamente fácil. Chegamos ao Pico da Contagem conquistando o 18º cume da travessia com 1852 m de altitude e o 15º ponto mais alto do Nordeste. Descemos e aproveitamos para almoçar e descansar um pouco. Pouca sombra havia no local, mas aproveitamos a pequena sombra de uma rocha para amenizar o grande calor que fazia nesse dia.

    A caminhada continua pelo vale do riacho do Cigano, avistando o paredão da serra à direita, até mais na frente subir ao colo entre os picos do Cigano e do Ouro Fino. Nesse ponto também fica a trilha de descida do vale do Bem-querer. Chegando na interseção entre os dois picos, deixamos nossas mochilas e fomos primeiro à direita ao ataque do Pico do Ouro Fino.

    Seguimos subindo e depois fomos andando pela cumeeira da serra. Seguindo pela trilha batida são quase 1 km até o Pico do Ouro fino. Chegamos ao nosso 19º cume da travessia com 1883 m de altitude e o 13º ponto mais alto do Nordeste. Uma bela vista da Serra da Tromba e do vale do Cigano, além do caminho que havíamos feito durante o dia. Voltamos pelo mesmo caminho e fomos até o Pico do Cigano.

    Pico do Ouro Fino com vista para o Pico do Elefante e Pico do Barbado

    A maior parte da subida é por sobre o capim que começa íngreme e depois vai ficando mais suave. Em alguns pontos a trilha está batida e segue pegando à direita nas brechas mais suaves da serra. São cerca de 400 m até o cume numa subida relativamente fácil.

    Chegamos ao Pico do Cigano e conquistamos o nosso 20º e último cume da travessia com 1901 m de altitude e o 12º ponto mais alto do Nordeste. De cima um visão mais próxima do vale do Cigano com o Pico da Pedra Lisa ao lado direito.

    Pico do Cigano com vista para a Pedra Lisa (roupa com sinais de vários dias de travessia)

    Voltamos novamente ao passo, apanhamos as mochilas e dessa vez pegamos a última descida pelo vale do Bem-querer para finalizar a travessia. Nosso destino final foi no povoado de Catolés de Cima, povoado de Abaíra/BA.

    CONTATOS

    - Pousada Portal da Chapada: Pousada onde nos hospedamos em Rio de Contas. Fomos recepcionados pelo Marinilton Martins que é muito gente boa. Cel. (77) 9 8164-5150

    - Condutor Chico Guia: Morador local em Catolés. Cel. (71) 9 9405-6389 / Instagram: @chico.guia

    - Condutor Tilu: Faz transfer na região de Rio de Contas. Possui um camping na cidade de Rio de Contas. Cel. (77) 9 8108-0030.

    OBSERVAÇÕES

    - Maior parte do percurso sem trilha demarcada ou batida;

    - Presença de cerração em meio a chuva fina principalmente no começo da manhã;

    - As cotas de altitude utilizadas nos picos foram obtidas pelo GPS de um celular, dessa forma pode existir alguma diferença de metros em relação às outras medições;

    - Temperatura mínima de 10ºC na última noite e média de 12ºC durante as madrugadas;

    AGRADECIMENTOS

    Gostaria de agradecer primeiramente à Deus por me permitir, aos meus parceiros Marlon e Marcelo pelos grandes momentos vividos durante a travessia que com certeza ficaram para sempre na memória. Ao meu irmão e à minha namorada Maria por todo apoio. Ao Pedrão do Brasil pelas trocas de ideias sobre o percurso e ao Marinilton da pousada Portal da Chapada.

    LINKS

    (1) Pico do Barbado - https://meteoropole.com.br/2012/07/pico-do-barbado

    (2) Montanhista Baiano Conquista os Maiores Picos da Chapada Dimantina - https://www.guiachapadadiamantina.com.br/montanhista-baiano-conquista-os-maiores-picos-da-chapada-diamantina

    (3) Carnaval nas alturas - explorando o teto do Nordeste - https://aventurebox.com/ptofte/carnaval-nas-alturas-explorando-o-teto-do-nordeste/report

    (4) Serras Altas da Bahia - https://aventurebox.com/ptofte/serras-altas-da-bahia/report

    (5) Gigantes do Nordeste. Travessia dos Nove maiores cumes - https://pt.wikiloc.com/trilhas-trekking/gigantes-do-nordeste-travessia-dos-nove-maiores-cumes-100617588

    (6) Os 8 Maiores Cumes são Atrativos de Trekking na Chapada Diamantina - https://www.guiachapadadiamantina.com.br/8-maiores-cumes-da-chapada-diamantina

    Tem Trilha
    Tem Trilha

    Published on 12/10/2024 10:44

    Performed from 06/02/2024 to 06/09/2024

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    6 Comments
    nos Brasis do Brasil 12/10/2024 13:31

    👏👏👏🫶

    Peter Tofte 12/10/2024 15:45

    Relatão! Parabéns pelo relato detalhado e bem redigido com belas fotos. Excelente aventura! Bateu saudades!

    André Deberdt 12/11/2024 18:50

    Este relato ficou sensacional, Parabens! Sem dúvida a motivação para fazer esta aventura em 2025!

    Fael Fepi 12/12/2024 16:39

    Parabéns ! Pela trilha e em relatar esse trecho. É um dos melhores da região e pouco realizado devido a logistica e dificuldade. 

    Fabio Fliess 12/13/2024 13:37

    Parabéns pela travessia e obrigado pelo relato. Ficou sensacional. Aguçou ainda mais minha vontade de conhecer as montanhas nordestinas.

    Marlon Escoteiro 01/26/2025 20:29

    Baita expedição, obrigado pela parceria! Tudo retardado. 

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    João Pessoa - PB

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    Criando e divulgando roteiros de trekking pelo nordeste www.temtrilha.com.br @tem.trilha

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