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Bruno Negreiros 26/04/2021 18:05 com 1 participante
    Escalada na Agulhinha da Gávea - Via Olimpo (3º IVsup)

    Escalada na Agulhinha da Gávea - Via Olimpo (3º IVsup)

    Escalada na Agulhinha da Gávea (Via Olimpo), no Parque Nacional da Tijuca, Rio de janeiro/RJ

    Montanhismo Escalada

    Escalada da Via Olimpo (3º IVsup, 120 metros)

    Tipo de Aventura: escalada na Agulhinha da Gávea, no Parque Nacional da Tijuca, Rio de janeiro/RJ, realizada em 28.10.2020.

    Base da Via: De 15 a 20 minutos de caminhada saindo à esquerda da Estrada da Pedra Bonita (subindo rumo ao estacionamento).

    Croqui disponível no Guia de Escaladas da Floresta da Tijuca:

    https://companhiadaescalada.com.br/produto/guia-de-escaladas-da-floresta/

    Informações Importantes

    • São necessárias pelo menos 6 costuras, sendo recomendadas 3 longas. O uso de móveis (friends e stoppers) é opcional, mas ajudam demais, principalmente na primeira enfiada e na chaminé aberta.
    • Trata-se de uma ótima via para ser escalada na Floresta da Tijuca por combinar o fácil acesso, a boa dificuldade técnica, os visuais incríveis e a conquista do cume.
    • Por ser uma via muito popular, chegue cedo para evitar "engarrafamento".
    • Tome muito cuidado com a vegetação presente durante toda a via. Elas podem até te ajudar em alguns pontos, mas faça isso com muita delicadeza.
    • Se você for guiar, esteja preparado para o que vai enfrentar. A chaminé aberta e os trechos verticais seguintes são bem desafiantes.

    LOGÍSTICA

    Bom, entre muitos problemas, viver na cidade do Rio de Janeiro também tem suas inúmeras vantagens. Uma delas é, para aqueles com horário de trabalho flexível, poder escalar uma via inteira durante a manhã e ainda voltar para casa e trabalhar logo após o horário do almoço. E foi exatamente o que rolou numa quarta-feira de outubro depois de um convite feito pelo meu amigo Rafael Damiati.

    Desde o curso básico de montanhismo (CBM) que fiz no Centro Excursionista Brasileiro – CEB essa via estava na minha lista e eu não podia dizer não. Topei! Falei: “bora, partiu, me leva, me guia, nunca te pedi nada, vai ser iradoooooooo”. Saí de casa cedão, passei no Flamengo (onde o Damiati morava) peguei ele e seguimos rumo à Estrada das Canoas, caminho tradicional para se chegar nas trilhas da Pedra Bonita e da Agulhinha da Gávea.

    Subimos a estrada que corta a Floresta da Tijuca até que, por volta das 7:45 estávamos no portão de entrada da Estrada da Pedra Bonita. Aguardamos a abertura dos portões às 8:00, demos nossos nomes, destinos e subimos. Paramos um pouco antes do estacionamento próximo ao acesso da trilha da Pedra Bonita, onde existe uma cisterna de pedra com água corrente. Bebemos água, respiramos e entramos na mata ruma à base da via.

    Fomos rastreando o caminho à nossa frente, hora bem demarcado, hora sumido por conta da quantidade de galhos caídos. Erramos algumas vezes. Quando ficava meio íngreme, voltávamos. E assim fomos, a cada 50 metros pensando se estávamos no caminho certo, por aproximadamente 20 minutos até que chegamos na base da via. “Aí, Rafa, tô amarradão em subir hein!!”

    RELATO

    Revisamos o croqui através de uma foto tirada no celular do Rafael, nos equipamos, passamos os procedimentos de segurança, checamos os equipamentos e começamos a escalada.

    O Rafael começou a primeira enfiada, um trecho meio de oposição muito sujo e até com um grampo torto na direita. Ali ele já começou a usar alguns móveis para tornar a escalada mais segura. Lembro bem de, em algum momento da sua subida, ter pensado: “mano, é sério que vou subir isso? Será que minha sapatilha vai aderir nessa sujeira toda?”. Ele foi e passou sem muitos problemas até um ponto com dois grampos, logo abaixo de um teto. Fui logo em seguida colocando o pé onde dava e recolhendo todos os equipamentos que ficaram. Com muito cuidado fui sentindo a confiança aumentar. Minha sapatilha não chegou a escorregar e eu encontrei boas agarras no caminho. Ufa, mal tinha começado e eu já tava era me tremendo de medo.

    É serío que eu teria que subir ali?

    Aquela ainda não era a primeira parada dupla indicada no croqui. Tínhamos vencido um lance com muita sujeira, então resolvemos parar ali e nos preparar para um difícil lance que vinha logo em seguida. Apesar de curto, era um teto que tinhámos que transpor onde os guias classificam a passada como um IVSup, ou seja, demandava técnica e atenção. Passamos sem muitos problemas e demos a volta na vegetação logo acima. Agora, enfim, vencendo os cerca de 25 metros da primeira enfiada.

    Enquanto faziamos todos os procedimentos, começamos a ver/escutar um movimento na mata logo acima. Começamos a nos indagar o que estava acontecendo. – Será um animal? – Perguntou o Rafael. Cinco minutos depois, enquanto nos aprontávamos para a segunda enfiada, vimos um bando de quatis na rocha. É ISSO MESMO, os caras estavam ali tranquilões naquela piramba de pedra enquanto a gente passava o maior sufoco com sapatilhas e cordas. Hahahahah rimos muito.

    Seguimos para a segunda enfiada, sempre com o Rafael guiando, com uma passada para a direita e depois uma subida de aproximadamente 25 metros reta transpondo uma pedra entalada. Chegando lá, já olhei pra cima e pensei: “ferrou (fu#&*%), essa chaminé vai ser sinistra”.

    Rafael começou a guiada. Chegou na chaminé, calculou como subiria, gostou de umas passadas, de outras não. Parou, repensou, mudou o balanço do corpo, melhorou o equilíbrio e, na base da habilidade técnica pura, conseguiu superar aquele trecho. Mas isso ainda não tinha acabado. Logo acima veio um lance bem mais vertical que pode ser considerado a parte mais difícil de toda a via: o crux (IVSup).

    De onde eu estava dando segurança, o visual não era dos melhores para o crux, então nossa comunicação era totalmente verbal. Eu estava dando corda e ele subindo bem devagar. Foi quando eu escutei: “VOU CAIR”. Logo comecei a retesar a corda e a segurar firme todo o sistema me preparando para o tranco, que seria forte. Temi também que ele pudesse se machucar já que poderia bater em muitas rochas durante a queda. Eu já estava preparado para o pior quando ele gritou: “PASSEEEEEI”. Ufa, respirei muito fundo e logo voltei a dar corda pra não prender a sua ascensão até a terceira parada. Foi uma mistura de alívio e medo, já que logo seria eu encarando aquele trecho.

    Ele chegou, puxou corda, respirou um pouco, montou a segurança de cima e me chamou. Lá fui eu... Cheguei na chaminé e NÃO TINHA IDEIA DE COMO SUBIR. Cara, não é uma chaminé perfeitinha como vocês que estão lendo esse relato podem estar imaginando que é. Era como se fossem dois trechos lisos de pedras paralelos e separados somente por uma via (tipo um sulco) por onde se passava. Bom, mas eu não tinha escolha, o caminho era pra cima do jeito que desse pra subir.

    Eu fui tentando em uma posição meio que de tesoura, meio na aderência, meio na força bruta. Era vontade pura. Colocava a sapatilha de um lado e o que desse do corpo no outro. Era pé + bunda, pé + mochila... fui literalmente me arrastando, batendo cabeça e uivando de raiva... até conseguir superar e chegar em cima todo ralado. Ainda tinha o crux... Sendo honesto, nem sei como passei, foi na raça mesmo metendo o pé, me puxando com a mão e respirando fundo. No último lance, eu estava morto e dei uma singela arragada na árvore (não façam isso). Foi delicado, mas necessário. Cheguei no fim da terceira enfiada exausto. - Respira, jovem, passamos. – Disse o meu guia.

    Depois de uns bons 10 minutos respirando e tomando água, vencemos a quarta enfiada em uma diagonal de cerca de 40 metros pra esquerda desviando de alguns cactos. A foto abaixo retrata bem esse momento, bem como minha cara de morto com o capacete todo torto. Só faltava a última enfiada e a trilha até o cume.

    Toto torto na diagonal.

    Rafael seguiu e passou pelo bonito lance em oposição sem problemas. Fui, passei pelo primeiro trecho sem muitos problemas, superei um tetinho e dei de cara com a oposição. Maravilhosa e de manual... Daquelas que todo escalador quer enfrentar na vida. Chego a me emocionar só de lembrar. Mas, como eu disse, eu estava exausto. Meus braços tremiam ainda do lance anterior. Não sei como, mas fui me puxando, enfiando o pé, me puxando mais um pouco e subindo centímetro atrás de centímetro até o grande agarrão num bico de pedra. Coloquei uma das mãos nele e escutei o Rafael falar: “agora se puxa com toda a sua força”. “aaaaaaaaaah, foi!!!!”. Passei a oposição e finalizamos os 30 metros da quarta enfiada com a parada feita em uma das árvores bem estabelecidas. Eu sentei entre as cordas e os equipamentos e pedi uns minutos pra descansar...ufa!

    Feito isso, caminhamos numa diagonal para a esquerda, encontramos a trilha e subimos cerca de 5 minutos até o cume da Agulhinha da Gávea, com direito a foto, aquele aperto de mão e muita comemoração... UHUUUUUUUUUUUUUUL

    Cume da Agulhinha da Gávea.

    Nos desequipamos e descemos a bonita trilha da Agulhinha, com vista para a Pedra da Gávea, em 25 minutos até o estacionamento da Pedra Bonita. Ainda era 11:30 e a adrenalina ainda estava pelo meu corpo. Mais algumas comemorações, descemos a estrada e partimos. Afinal, eu ainda ia trabalhar...hahhahahahaa.

    CONCLUSÕES

    Essa tinha sido minha primeira escalada com o Damiati desde que ele foi monitor no meu curso de montanhismo lá em 2019... Uma grande conquista. Tenho certeza de que muita coisa ainda está por vir quando acabar esse período difícil de pandemia. Sou fã desse cara e aguardo o relato dele sobre essa aventura.

    Durante muito tempo eu tive medo de escalar justamente por causa do meu medo de altura. Começar no esporte foi um longo processo motivado pelo desejo de evoluir tecnicamente e, justamente, de enfrentar os meus medos. Mas se posso definir algumas imagens mentais que sempre me motivaram a enfrentar isso tudo, penso naquelas imagens cinematográficas vistas em muitos filmes do gênero que retratam chaminés e oposições sinistras. Era isso, eu tinha vencido e passado pro alguns dos trechos que sempre ocuparam a minha imaginação. Foi no sacrifício? Foi, mas espero em breve passar de forma mais confortável e, quem sabe, guiando.

    Além disso tudo, foi uma escalada que me fez pensar muito sobre minha rotineira ansiedade do dia-a-dia. Lá em cima, não tem espaço pra isso. Você tem que fazer os procedimentos todos certos, procurar uma boa agarra, mesmo que ela não exista e subir. Às vezes, se arrastar na garra mesmo... com calma e sempre pra cima.

    Por fim, essa foi minha terceira via de escalada com cume. Já escrevi em muitos outros relatos o quanto eu fico feliz em subir as montanhas, já vencidas a pé, escalando sobre novos ângulos e perspectivas. Já tinha sido o Morro da Urca através da via Infravermelho e o Pico da Tijuca pela via P3. Agora ta aí, a Agulhinha da Gávea foi conquistada pela Via Olimpo... Muitas outras virão.

    A Agulhinha da Gávea.

    Bruno Negreiros
    Bruno Negreiros

    Publicado em 26/04/2021 18:05

    Realizada em 28/10/2020

    1 Participante

    Rafael Damiati

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    2 Comentários
    Rafael Damiati 26/04/2021 18:17

    Boas lembranças desse dia! Essa via é especial pra mim e foi muito maneiro ter escalado essa contigo, mano. 🤘🏼

    Bruno Negreiros 26/04/2021 20:40

    Valeu, mano... Grande dia e grande escalada. #meguia

    Bruno Negreiros

    Bruno Negreiros

    Rio de Janeiro

    Rox
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    Engenheiro ambiental e montanhista com o sonho de contribuir para a disseminação dos esportes ao ar livre e de aumentar a conscientização ambiental e social no mundo outdoor.

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