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Peter Tofte 17/08/2020 21:36 com 1 participante
    De volta, com mais emoção!

    De volta, com mais emoção!

    Retornando as cachoeiras Três Barras, Cristais e Bequinho, só que com bem mais água. Região de Mucugê, Chapada Diamantina.

    Trekking Montanhismo

    No grupo de zap do Bushcraft Bahia observei que algumas pessoas estavam com síndrome de abstinência de trilha. Como em Salvador estão liberando agora o comércio e restaurantes devido a queda na taxa de ocupação de UTIs resolvi convidar alguns destes (casos mais graves de abstinência) para uma trilha fora do PN Chapada Diamantina, a mesma que relatei aqui faz pouco tempo (vide "Cachoeiras com emoção”).

    Chamei Lucas (Planeta Outdoor), Rafael e Ernani. Eles ainda não conheciam as cachoeiras 3 Barras, Cristais e Bequinho. Miguel de Mucugê, de última hora, não pode ir.

    SEXTA 14/08

    Saltamos no início da trilha cerca de 13 horas e Ana Moraes retornou com o carro para Mucugê. Combinamos nosso resgate para domingo as 11:30.

    Rafael, Ernani e Lucas. Partiu trilha!

    Seguimos pelo platô com vegetação de campos de altitude por uma hora até que avistamos o vale do Piabas e ao fundo a cachoeira das 3 Barras. O grande volume de água espumando indicava que choveu bem naqueles platôs acima de 1.000 metros.

    Mirante no meio da descida. O Piabas logo abaixo.

    Descemos para o rio onde atravessamos o Piabas. Rafael, com pouco costume em travessias, foi o mais lento, receoso de um escorregão.

    Pegamos a trilha bem batida do outro lado para a curva superior do “S” que o rio faz neste local. O Rafael sofreu uma queda no areal as margens do rio, teve uma torção e passou a sentir o joelho. Quando se recuperou atravessamos um pequeno tributário do Piabas por um galho que alguém jogou para servir de ponte.

    Outra travessia do Piabas e prosseguimos na margem esquerda verdadeira. Eu e Ernani, mais rápidos, fomos na frente. Até que notamos que Rafael e Lucas estavam demorando para aparecer onde os esperamos. Resolvi voltar para averiguar. Encontrei-os com Rafa andando muito lentamente, capengando devido a dor no joelho. Após rápida conversa notei que dificilmente ele teria condição de chegar a toca da 3 Barras naquela tarde, antes do anoitecer. E seria uma andada lenta e dolorosa para ele.

    Decidimos acampar por ali. Ernani avistou um lajeado do outro lado do rio e atravessou para verificar se seria uma boa dormida. Acenou OK para nos e atravessamos também o Piabas, cautelosamente.

    Local bonito e tinha uma rota de fuga caso o rio subisse muito. A tarpa verde limão e o poncho verde cobriam a lateral da lapa. A tenda laranja é do Rafael.

    Ernani tentou pescar mas sem sucesso. Ao final da tarde começou uma chuva leve forçando-nos a preparar o jantar debaixo da laje, protegidos na lateral pela minha tarpa. Ernani preparou uma cachaça com mel que reanimou a galera. Rafael estava de barão porque levou sua tenda enquanto nos, os demais, bivacamos.

    Jantar debaixo da lapa.

    A previsão do tempo dava zero de chuva nestes dias. Como erra nas montanhas perto de Mucugê!

    Dormimos bem, apesar da chuva alternada com leve chuvisco que o vento as vezes levava para baixo da laje/tarpa. Estávamos exaustos porque neste dia acordamos em Salvador 3:30 da madrugada para chegar em Mucugê meio dia. Pela noite meu relógio registrou 19 graus. Esperava menos.

    Na manhã seguinte tentaríamos as cachoeiras.

    SÁBADO

    Pela madrugada Ernani acordou para urinar e voltou para acordar-nos dizendo: “não quero assustar vocês mas venham olhar o rio”. As headlamps iluminaram um rio caudaloso, turbulento, espumando, que tinha subido um metro e meio. Ainda tinha outro tanto para nos atingir na toca. Impressionante a velocidade de subida destas águas. O Piabas faz jus a fama de rio perigoso. Não havia chovido tanto assim.

    Voltamos a dormir após combinarmos um revezamento para observar o nível do rio. Entretanto nossa experiência sugeria que o rio não nos alcançaria na toca.

    De manhã o rio já havia diminuído bastante. Rafa nos contou que o joelho não estava melhor e decidiu ficar no acampamento. Assim resolvemos não mudar o acampamento para a toca da 3 Barras e fazer um bate e volta as cachoeiras 3 Barras, Cristais e Bequinho. Rafael ficaria tomando conta do acampamento e, acaso chovesse, voltaríamos correndo. Combinamos com ele que regressaríamos até as 15 horas.

    Após continuar na margem direta verdadeira do rio por uma hora, chegamos na 3 Barras. Ela estava bombando. Tiramos fotos e mais fotos.

    Isto que é amigo: aparando a água fria da cachoeira!

    Atravessamos o rio com alguma dificuldade, com água pela cintura. Eu fui na frente e só na terceira tentativa achei pedras no leito do rio que permitiam apoiar os pés como um calço de modo a não ter as pernas arrastadas pela forte correnteza.

    Visitamos a toca das 3 Barras. O capim seco que forrava o chão estava encharcado. Imaginamos o spray que deveria ter feito na noite anterior quando possivelmente a vazão da cachoeira estava o dobro da atual.

    A toca está atrás de Ernani, do outro lado do poção, perto da cachoeira. Por isso entra tanto spray nela.

    Comentei que há males que vem para o bem. Não fosse pelo joelho de Rafa teríamos dormido na toca da 3 Barras e passaríamos uma noite horrível. O spray molha tudo.

    Depois de algumas fotos prosseguimos para a Cristais. O córrego seco na lateral da 3 Barras (vide relato anterior) estava cheio de água. No topo da 3 Barras seguimos por mais uma hora e com mais 3 travessias chegamos na bela Cristais.

    A toca tinha claros indícios de que fora inundada na noite anterior.

    Chegando na Cristais.

    De lá mais uma travessia e visitamos a Bequinho. Queda d’água linda. Como tinha água em relação a visita anterior! Ela parece uma mini Fumacinha. Tem pessoas que visitam a Cristais e não percebem a Bequinho escondida a 200 metros da irmã maior numa lateral do canion.

    Lucas com a Bequinho ao fundo.

    Mais fotos e começamos a descida. Resolvemos lanchar apenas após a última travessia voltando, de modo a estarmos seguros se houvesse um aumento repentino do rio.

    Antes das 15 horas estávamos de regresso ao acampamento. O grande Rafa já tinha organizado as coisas e separado lenha para a fogueira. Ganhou o título de dono de toca. Pela tarde o dia ficou lindo, sol entre nuvens e tomamos banho de rio. Fizemos o almoço tardio cada um a seu modo: Rafa e Lucas usaram fogareiros a gás, eu, fogareiro a álcool e Ernani acendeu seu fogareiro de gravetos de queima pirolítica. Depois ele fez a fogueira comunal e Lucas preparou a massa para o chapati.

    Preparando o almoço quase 4 da tarde.

    Preparando a fogueira.

    Ao anoitecer não havia nuvens. Conversa boa, falando sobre a beleza destas cachoeiras e muitas risadas enquanto os chapatis assavam numa pedra ao lado da fogueira. Rafael sacou a gaita e começou a tocar.

    A tarde o gaiteiro começou a afinar o instrumento.

    Céu estrelado, as constelações aparecendo e uma estrela cadente riscou a escuridão. Uma das noites mais agradáveis que já passei na Chapada, pelo local e pela companhia.

    Ernani com a mão na massa.

    Fomos dormir tarde, por volta de 9:30.

    DOMINGO

    Despertamos no escuro, 5 da manhã, sonolentos. Um chuvisco e o céu nublado acenderam o sinal de alerta. Mas o nível do rio havia descido bem. Avistávamos novas pedras no leito do rio, agora a descoberto. Fizemos as mochilas apressados porque o Piabas adora surpreender.

    Me certifique que a fogueira de ontem estava só cinzas. Espalhei as pedras e a madeira que sobrou para não ficar traço da fogueira. A chuva rapidamente lavaria as cinzas. Nenhum lixo no local.

    Embora estivéssemos a cerca de 3 horas do ponto de resgate (combinado as 11:30) não queríamos arriscar porque não sabíamos como seria a progressão do Rafael devido ao joelho. E não desejávamos que Ana ficasse esperando no carro ao lado da estrada.

    Saímos do acampamento as 6:30. Na travessia do rio em frente a toca Ernani deixou cair o cantil e a correnteza ia levando. Rafa correu e deu um salto de goleiro conseguindo segurar no último instante, numa ponta de pedras.

    Com apenas 40 minutos atravessamos o Piabas pela última vez, só restando subir o vale e alcançar a estrada. Rafael estava bem melhor, por isso andamos num bom ritmo.

    Atravessando de volta o pequeno córrego.

    Após esta última travessia decidimos parar numa toca a beira do rio e fazer nosso café. Lucas caprichou no ovo frito e linguiça. A toca tinha garrafas de vidro vazias nas fendas, sinal que porcos haviam se abrigado no local.

    Barriga cheia, partimos para a última etapa. Subida lenta devido ao joelho de Rafa, mas foi contínua. Ao longe avistamos pela última vez a cachoeira 3 Barras, com bem menos água do que na sexta.

    Chegamos a beira da estrada as 10 e pouco. Ainda esperamos cerca de hora e meia pelo resgate.

    Rafa preparou um café enquanto esperávamos.

    Nove da noite estávamos de volta a Salvador.

    Crédito das fotos: Lucas (Planeta Outdoor).

    RECOMENDAÇÕES

    Trilha fácil exceto pelo rio Piabas, que as vezes traz surpresas. Pergunte a algum conhecido de Mucugê se choveu nos dias anteriores. Não confie na previsão do tempo. Se informarem que choveu logo antes o rio estará caudaloso.

    A toca da 3 Barras é muito legal para acampar se não houver spray.

    Peter Tofte
    Peter Tofte

    Publicado em 17/08/2020 21:36

    Realizada de 14/08/2020 até 16/08/2020

    1 Participante

    Lucas Andrade

    Visualizações

    871

    4 Comentários
    Ernani 18/08/2020 08:07

    Relato perfeito Mestre Peter! A noite do sábado para o domingo foi mesmo memorável! Ansioso pela próxima aventura.

    Peter Tofte 18/08/2020 08:50

    Valeu Ernani! Perfeita foi a companhia de vcs!!

    Alberto 18/08/2020 09:28

    Peter te agradeço por me deixar tão próximo de vc, de meus amigos e da maravilhosa chapada Diamantina. Abracos

    Peter Tofte 18/08/2020 13:35

    Valeu Beto! O que mais preciso relatar é uma nova trilha com vc!!

    Peter Tofte

    Peter Tofte

    Salvador, Bahia

    Rox
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    Carioca, baiano de criação, gosto de atividades ao ar livre, montanhismo e mergulho. A Chapada Diamantina, a Patagônia e o mar da Bahia são os meus destinos mais frequentes.

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