Ninguém volta o mesmo de uma viagem , principalmente se ela for realizada a um local tão incrível como o caminho inca que leva a cidade perdida de Machu Picchu .
São 51km de uma estrada feita há mais de 500 anos , moldada em pedra , suor e determinação. Elementos mais que perfeitos para se criar uma civilização maravilhosa como o Império Inca.
Um sonho acalentado há muitos anos , esperando o momento certo para concretiza-lo.
Junte quatro amigos apaixonados por aventura , disposição , uma certa dose de loucura e pronto - a fórmula perfeita !
Tentar descrever o que é uma região como os Andes ,não é fácil.
Tudo lá são superlativos- o frio ,as montanhas , o ar rarefeito , as distâncias...
Aos poucos vamos entrando no ritmo daquele povo tão misterioso , tentando entender o porque do caminho subir a 4.200m de altura e não contornar uma montanha , seguir por uma escadaria de 3.150 degraus e não desviar para uma área um pouco mais plana...mistério , não , apenas sabedoria . A engenhosidade dos Incas transcende os limites da matemática , astronomia e arquitetura...sem nunca terem usado a palavra escrita . Pobre de nós , simples mortais atados as letras de um alfabeto ,enquanto eles liam as estrelas , o sol, a lua e o vento . Um povo que não se importava com o tempo nem quantas pessoas pereceriam para finalizarem sua obra . O que importava era realizar um trabalho perfeito. Toneladas de encaixes , ângulos , entalhes ,tudo dentro de uma precisão milimétrica que nos deixa perplexos.
Em cada obra um estudo geodésico , em cada lavoura o estudo do microclima para melhor produzir –demais para a cabeça de um simples mortal!
Só nos resta seguir em frente caminhando pelas pedras assentadas de um caminho que nos tira o fôlego pela falta do ar , tanto quanto pela deslumbrante visão dos Andes.
Brumas pela manhã , sol intenso ao meio dia , céu incrivelmente azul ao cair da tarde e uma lua cheia com seu luar de” prata inca” para acalentar a noite .Como temos sorte de estar ali , de poder guardar na memória tudo isso , um privilégio saboreado por poucos que se dispõe a largar do conforto de uma cama e um banho quente .
Nesse lugar tão mágico caminha-se com pessoas do mundo inteiro , cada uma em busca de suas próprias conquistas , sejam ela físicas ou espirituais.
A todo momento vemos alguém sentado ; contemplando , mergulhado em pensamentos ou simplesmente tomando fôlego ,apreciando um dos mais belos visuais do planeta.
Passo a passo vamos vencendo esse caminho, mascando as folhas de coca ,tomando seu chá, roubando dela energia para seguir em frente .
O frio , o calor , o vento, a chuva ... a natureza caprichando nos seus obstáculos impondo-nos tarefas a serem cumpridas em cada etapa. O prêmio – Machu Picchu.
A cada passo que damos, mais perto ela fica . Somos envolvidos pelas histórias de nossa guia , que nos conta a história de seu povo com o orgulho refletido em seus olhos.
“-Nunca olhe a história dos incas com olhos ocidentais” , diz ela , o tempo e o espaço para eles corriam em um ritmo diferente.
Aos poucos vamos absorvendo os ensinamentos de Nelly ,nossa guia , e conseguindo entender a dinâmica dessa gente .
Assim , palavra por palavra , passo a passo , vamos ao encontro daquela que foi a obra máxima desse povo .
Machu Picchu ficou escondida de tudo e de todos , protegida pela natureza , que a camuflou entre árvores e musgos até que Hiram Bingham, o explorador, em 1911 a descobriu para o mundo e o poder econômico.
Pelos trilhos do trem ou pelas trilhas incas, milhares de pessoas querem conhece-la , cada qual com seu motivo pessoal.
E assim , pelos nossos motivos , numa fria madrugada ,levantamos acampamento, o último de uma série, em direção a Intipunku , os portões de entrada da cidade, para quem vem pelo caminho, como vinham os incas .
Passos rápidos , a respiração lenta pelo esforço e finalmente lá está ... apenas a alguns degraus . O coração acelera, a medida que vencemos os últimos níveis dessa escada extremamente íngreme.
De repente o tempo para , os olhos custam a acreditar naquele visão .
Lá embaixo a cidade perdida , que cena !
Nas brumas da manhã que nasce , ela está solitária , sem ninguém , somente para nós .
Todos ficam mudos contemplando, alguns suspirando , mas ninguém indiferente a magia daquela cidade .
Iniciamos a descida pelo desfiladeiro sem tirar os olhos dela, nem do precípicio ao nosso lado.
Chegamos no exato momento em que o sol desponta sobre as altas montanhas, iluminando
Huayna Picchu (jovem pico ) .
Aos poucos a luz vai envolvendo cada ponto das ruínas, nos fazendo descobrir detalhes cada vez mais incríveis.
Nesse momento a pergunta que fazíamos a nós mesmos, naqueles momentos mais difíceis do caminho vem a mente - “ O que é que eu estou fazendo aqui ,sofrendo desse jeito?”
A resposta vem pelas mãos iluminadas de Apu Inti , o deus sol dos incas.
Bem a nossa frente todo o resultado do explendor de um povo.
Um povo de cujo massacre físico e mental nunca mais se recuperou ,nos legando somente seus ideais em pedra , bronze , prata e ouro.
Era hora de sentar , descansar e apreciar , aquecidos pelo sol e iluminados pela sabedoria do Povo Inca...
