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Renan Cavichi 17/02/2019 19:36 com 4 participantes
    Mirador Plaza Francia | Face Sul do Aconcágua

    Mirador Plaza Francia | Face Sul do Aconcágua

    Segunda parte do Trekking no Parque Nacional do Aconcágua, próximo a cidade de Mendonza na Argentina.

    Alta Montanha Montanhismo Trekking

    "Há quem passe por um bosque e só veja lenha para a fogueira.”
    Liev Tolstói

    Para quem chegou neste relato diretamente, esta é a segunda de quatro partes do relato do Trekking no Parque Provincial do Aconcágua até o cume do Cerro Bonete. Os links para as demais partes do texto estão ao final da página! Boa leitura :) Let’s Rox!

    Confluencia x Plaza Francia (Face Sul do Aconcágua)

    Acordamos na manhã do dia 09 de janeiro no acampamento de Confluencia com um dia lindo, o céu estava azul e a luz do sol veio aos poucos colorindo os cumes nevados das montanhas ao redor do acampamento. A noite foi fria, acredito que na faixa de 5 graus, e alguns membros do grupo não dormiram bem, sentindo um pouco da altitude. Mas nada como o calor do sol aquecendo o acampamento para renovar as boas energias.

    Nos reunimos na tenda principal para um café da manhã reforçado. No cardápio tínhamos bolachas, café solúvel, aveia com leite em pó, pães e doces. Durante o café sempre começávamos também uma boa hidratação com chás, suco e água. Recomenda-se a partir dos 2 mil metros uma boa quantidade de água durante o dia, cerca de 1 litro para cada mil metros aproximadamente, ou seja, 3 litros de 3 a 4 mil, 4 litros de 4 a 5, e assim por diante até você virar um camelo nos 8 mil. haha
    Não é um cálculo muito preciso mas uma boa recomendação de alguns montanhistas para simplificar.

    Nesse dia a proposta era fazer um ataque a Plaza Francia, uma área de acampamento pouco usada que fica ao final do vale que leva até a face sul do Aconcágua. Pelo que entendi, esse acampamento é usado por escaladores que tentam as vias mais técnicas e perigosas da parede sul, mas não possui nenhuma infraestrutura do parque.

    Preparamos as mochilas com apenas alguns lanches, bastante água e seguimos a trilha. Uma dica legal é levar suco para as trilhas, a água no acampamento de Confluencia vem do desgelo das montanhas e carregam uma grande quantidade de minerais que alteram muito o sabor, não é insuportável, mas depois de 2 litros o gosto começa a enjoar e vai ficando cada vez mais difícil de beber. Nessa hora um suco disfarça bem o sabor. Eu estava com um saco de hidratação com 2 litros e uma garrafa de 750 ml, e para não colocar o suco no saco de hidratação e ficar sentindo gosto de suco de limão para o resto da vida rsrs coloquei apenas na garrafa, mas não foi uma boa divisão, no final do dia o gosto da água estava punk de beber. Recomendo levar ao menos duas garrafas de água e só metade, ou menos em saco de hidratação.

    A trilha sai do acampamento na mesma direção para quem segue para o acampamento base, mas ao chegar em um vale cortado por um riacho o caminho para a Plaza Francia segue pela direita, antes de cruzar a ponte de ferro na parte de baixo do vale.

    Seguindo para direita não tem erro, o percurso todo sobe por um vale com montanhas rochosas bastante íngremes à direita e do lado esquerdo, à distância, é possível avistar o Aconcágua que vai mostrando sua imponência a cada passo.

    Muitos grupos estavam fazendo a trilha até a face sul para aclimatação, uma forma de evitar o Mal Agudo das Montanhas (MAM). Para quem não conhece, o mal das montanhas, também conhecida como doença das alturas ou mal agudo de montanha, é uma das principais preocupações dos montanhistas, um problema causado pela escassez de oxigênio nas grandes altitudes que impossibilita que o organismo obtenha o oxigênio necessário para suas necessidades básicas, o que muitas vezes acaba resultando em dores de cabeça, mal-estar, fadiga, insônia... podendo evoluir para edema pulmonar ou cerebral. Em casos mais graves, quando não tratado pode levar ao óbito. Se hidratar bem, repousar, se alimentar com uma dieta adequada e fazer uma aclimatação lenta é sempre a melhor forma de evitar estes sintomas.

    Mesmo com todos os cuidados o MAM é algo muito comum. Nosso amigo Antônio durante a caminhada para a face sul sentiu alguns dos sintomas, não dormiu bem na noite anterior e se sentiu mal durante a trilha. Como havia muitos grupos fazendo esse trajeto, retornou para o acampamento de confluência para mais tarde junto com o grupo fazer o checkin médico.

    Ao terminar a parte mais íngreme da subida e chegar ao vale que faz uma curva para esquerda o tempo começou a fechar anunciando uma nevasca em algumas horas. Não estávamos longe e decidimos seguir em um ritmo acelerado.

    Na parte mais aberta do vale rajadas de ventos fortes e gelados nos obrigavam a parar muitas vezes e nos apoiar, inclinando em direção contrária. Na foto a seguir consegui registrar um dos momentos que nossa amiga Lina brigava com o vento forte em uma pequena crista.

    A trilha ainda segue alguns quilômetros por um trecho plano e com rochas que vieram para o vale em alguma avalanche. Pensamos em retornar algumas vezes devido ao mau tempo, mas faltava pouco para atingir a parte mais alta no fundo do vale.

    Ao seguir mais alguns metros começamos a ver o gigante se aproximando a cada passo por de trás das montanhas do lado esquerdo!

    Lá estávamos, frente a frente com a face sul do Aconcágua, uma imensidão que nenhum relato ou foto pode transmitir. Uma experiência que gostaria de compartilhar com todos meus amigos admiradores da natureza. Espero de coração que estes registros inspirem e levem alguns até lá.

    Em algum momento da caminhada, ao me aproximar do mirante, me vi sozinho na trilha e não pude deixar de fazer um autorretrato para registrar esse momento. Foram 5 anos de pilates para apertar o botão e correr para me equilibrar assim! hahah

    :D #TheZueiraNeverEnds

    Paramos no mirante na parte mais alta do vale (aproximadamente de 4.200 metros) para fazer um registro fotográfico do grupo. A trilha leva cerca de 5 a 6 horas, ida e volta, com 20 km aproximadamente. A Plaza Francia ainda estava mais alguns metros a frente descendo até o fundo do vale, mas decidimos retornar desse ponto da trilha, chamado de Mirador, as nuvens carregadas já tomavam boa parte das montanhas ao lado esquerdo do Aconcágua e certamente pegaríamos um pouco de neve no retorno. Já havíamos atingido o ponto mais alto do vale e a vista do Aconcágua já foi fantástica. Missão cumprida.

    Depois de comer um lanche, retomamos o caminho de volta em um passo acelerado. Mesmo assim ainda pegamos uma pequena nevasca no trecho final próximo ao acampamento.

    Done! Todos de volta e seguros no abrigo! Encontramos o Antonio que estava se sentindo um pouco melhor mas ainda com um pouco de dor de cabeça. O Hélio preparou uma macarronada com ajuda da Fernanda e logo estava servida a janta. Nham, sem dúvida uma das melhores partes dessas atividades de aventura. Rsrs

    Algum tempo de descanso para repor as energias e depois fomos fazer o checkin médico. O acompanhamento médico é uma das obrigações dos montanhistas que visitam o Aconcágua. Apesar da fila demorada para ser atendido, os médicos são muito atenciosos. Para seguir para o próximo acampamento precisamos fazer o controle e registrar no permiso.

    Ficamos um pouco tristes pois nosso amigo Antonio foi diagnosticado com princípio de MAM e para que os sintomas não avançassem deveria retornar para Horcones. Pensamos ainda em ficar mais um dia por lá na tentativa de uma melhora, mas ele decidiu sabiamente retornar para Mendonza. As montanhas sempre estarão lá e todo montanhista sabe que a saúde e a segurança são o mais importante, sempre.

    Voltamos para a tenda, tomamos chá e nos hidratamos mais um pouco. A nevasca nessa hora havia chegado ao acampamento. O vento frio era intenso e as barracas já estavam com uma camada de neve.

    A nevasca se foi com o chegar da noite, exibindo as silhuetas das montanhas na última luz do dia. Hora de descansar e recuperar as energias para o trecho mais longo do Trekking, a subida para a Plaza de Mulas a 4.300 metros de altitude.

    Sigo em breve com o próximo relato!

    1) Puente del Inca x Confluencia
    2) Plaza Francia, Face Sul do Aconcágua
    3) Confluencia x Plaza de Mulas
    4) Cerro Bonete

    Agradeço pela leitura,
    Bons ventos!

    Renan Cavichi
    Renan Cavichi

    Publicado em 17/02/2019 19:36

    Realizada em 09/01/2019

    4 Participantes

    Hélio Fenrich Fernanda Degow Spot Brasil Jose Antonio Seng

    Visualizações

    5598

    9 Comentários
    Fabio Fliess 18/02/2019 09:40

    Muito show meu brother... Surtei nas fotos!! Hahahaha... Preciso conhecer esse lugar! Parabéns por mais um belo relato. Abraços.

    1
    Renan Cavichi 21/02/2019 20:04

    Valeu meu amigo! Lugar lindo mesmo! Chegou a ver o relato do Peter sobre o vale que fica ao lado! É uma heim! Abração!

    Fernanda Degow 12/03/2019 08:06

    Que lindo relato, Renan. Parece até que revivi alguns momentos lá.

    1
    Renan Cavichi 16/03/2019 19:55

    Eae Fernanda, Bem-vinda! Sempre viajo de volta escrevendo e editando as fotos! :) Acabei de publicar mais uma parte, vou marcar você nos participantes!

    Jose Antonio Seng 23/11/2020 15:09

    Ola meu amigo Renan. De fato, senti um pouco o MAM e retornei no dia seguinte, quando vcs subiram para Plaza de Mulas. Alias, senti razoavelmente bem. Sensação horrivel. Gostaria de ter finalizado até Bonete, mas nessas horas temos que nos agarrar as recomendações medicas. Foi bom, porque pude me preparar bem melhor para o trekking que fiz no Peru, no meio desse mesmo ano. E pude degustar otimos vinhos em Mendoza.

    1
    Jose Antonio Seng 23/11/2020 15:16

    É muito importante não só exercicios aeróbicos (entrei numa natação oceanica logo depois) como também fazer muitas trilhas. Qualquer que seja, com um certo peso a mais (nao na barriga, na mochila, rs). E também passar um bom tempo na aclimatação. Isso melhora as chances de vc não ter o MAM. No Peru, subi a 5020m (Huayhuash) e outros diversos pontos, como Rainbow Mountain e Salkantay, e não senti nenhum MAM de novo. Graças !

    1
    Jose Antonio Seng 23/11/2020 19:22

    Na verdade, consegui corrigir muita coisa com esse MAM. Em especial aprender a caminhar no tempo certo, preparação certa, levar o peso certo. Nada como um susto desses para chegar lá...

    1
    Marcelo Lima 15/09/2023 13:02

    Parabéns pelos relatos e fotos, inspiradores! Sem palavras para a frase do Tolstói..

    1
    Renan Cavichi 15/09/2023 14:30

    Valeu Marcelo! 👊🏼🤘🏼

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    Renan Cavichi

    Renan Cavichi

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